Como escrever um livro

Escrever um livro é um processo moroso que requer uma grande capacidade de organização. Períodos de frustração, confusão de ideias, dúvidas, hesitações sobre a continuidade, etc., são normais e frequentes.

A escrita do livro deve partir do simples desejo de contar uma história através da escrita. Não deve começar para cumprir o objetivo de publicar, de ser um grande escritor, alcançar o sucesso e a visibilidade pública.

O caminho é difícil e, neste longo percurso, entre as ideias iniciais e a história a contar vão verificar-se muitos desvios, muitas alterações à linha inicialmente traçada. Ao mesmo tempo, surgirão imensas dúvidas sobre o desenvolvimento da ideia. E, de certeza, haverá muitas horas de trabalho, ou mesmo dias, em que nada flui, em que parece haver um bloqueio mental.

Estas dificuldades são vencidas com muita resiliência e, sobretudo, com muita organização. Esta organização é física – espaço confortável e sem distrações -, mental – estar disponível e concentrado -, e metodológica – seguir os passos definidos.

Para alcançar com sucesso o desiderato, o caminho mais seguro é, antes de começar o processo criativo, definir algumas etapas a seguir. A definição e organização de todo o processo em etapas facilita não só o alcance do objetivo final, mas também o desenvolvimento da ideia/história de forma mais fluída e eficaz.

As etapas são um guião, não são estanques, variam de autor para autor e, até mesmo, quanto ao tipo de livro/história. De seguida, apresentamos uma possível sequência de etapas dividida em dois tipos: as etapas metodológicas e as etapas de escrita.

Etapas metodológicas

Nesta primeira etapa, o objetivo é estruturar um plano geral de ação. Nele deve haver uma calendarização – para que a escrita não vá sendo adiada – e uma definição da sequência dos passos a seguir. Todos os passos devem ser descritos e cumpridos no prazo.

Exemplo:

  • Data de finalização do guião (esqueleto da obra).
  • Período de pesquisa sobre os assuntos abordados no livro.
  • Data para finalizar o primeiro rascunho.
  • Período de repouso – este é fundamental para haver um distanciamento do que foi escrito.

  • Leitura e alterações, criando o segundo rascunho – o repouso anterior vai fazer com que algumas ideias sejam alvo de novas abordagens.

Planear a história, as personagens, os lugares e o enredo A definição das linhas gerais da história, personagens, lugares e enredo é fundamental para balizar a escrita e ajudar o seu desenvolvimento. No processo de escrita, a existência de uma sequência e pontos-chave facilita e ajuda a vencer os bloqueios e indefinições.

O conteúdo da escrita não tem de ser verdadeiro. Mesmo não o sendo, é provável que existam referências a factos, a acontecimentos, um enquadramento numa época, etc. A descrição de lugares deve corresponder à realidade. Importa a coerência dessas referências com a realidade, seja esta atual ou de uma determinada época histórica. Os dados apresentados devem ser corretos, se baseados em realidades. Só assim uma história pode ser verosímil. Então, o trabalho de preparação (planificação) deve antecipar a escrita. A estratégia mais correta, facilitadora da escrita, é a pesquisa e exploração de acontecimentos e lugares, eventualmente de personagens e seu enquadramento temporal, de forma a criar uma base documental para ser usada posteriormente, ajudando à correta integração destes elementos na história.

Depois de finalizado, o manuscrito deve ser “esquecido” por algumas semanas. Depois, é hora de voltar a ler. Este distanciamento permite detetar conteúdo menos claro, ideias mal explicadas, confusões na narrativa, etc. O distanciamento permitirá melhorias na narrativa.

Depois da obra finalizada, o passo obrigatório é pedir uma opinião a amigos e familiares ou a alguém que possa ter uma opinião válida. Este passo permitirá uma avaliação geral da obra, trazendo à luz alguns aspetos menos positivos da narrativa, que podem ser simples de resolver, tais como erros/confusões na sequência da narrativa.

Etapas de escrita

A decisão da escrita pode partir do desejo de contar uma história já germinada ou pode ser necessário encontrar uma ideia para prosseguir o objetivo de escrever. Assim, o primeiro passo é “encontrar uma ideia”. Se o caminho for “encontrar uma ideia”, não tem de ser uma tarefa a cumprir num prazo curto. Pelo contrário, deve ser um processo alongado no tempo, em que cada ideia que surja deve ser desenvolvida na imaginação, criando algumas linhas gerais de enredo, verificando se há, ou não, muito a escrever sobre esse tema. O bloco de notas deve andar sempre no bolso! Nesta etapa é importante avaliar as ideias, se são pertinentes para o leitor, se a história ainda não foi contada. Uma pesquisa sobre a ideia faz parte do processo de escrita e garante um trabalho final inédito e mais criativo.

Desenvolver a ideia, criar a história, as personagens e os lugares

Definido o tema da história a escrever, os próximos passos são a elaboração e descrição dos vários elementos da história: a evolução e enredo da história; os principais eventos do enredo; a caracterização das personagens; a definição dos protagonistas; o enquadramento temporal e geográfico. Nesta fase são criadas as linhas gerais, base também para a pesquisa documental que precise de ser feita.

O desenvolvimento do enredo corresponde à escrita do livro, é quando o mesmo ganha forma. Seguindo o planeamento antes feito (história, personagens, lugares, etc.), a escrita terá um maior desenvolvimento, será mais produtiva. Mas também é verdade que, muitas vezes, a passagem das ideias para o enredo leva a profundas alterações – muda-se a história, as personagens, os protagonistas – o que tem como desvantagem chegar-se a uma situação em que a história fica confusa, surgem bloqueios e é necessário redefinir o projeto. Uma outra forma de desenvolver a história é partindo apenas da ideia geral, de algumas personagens ainda pouco caracterizadas e ir escrevendo a história sem grandes linhas orientadoras, com o enredo a surgir como consequência do que vai sendo escrito – é uma escrita que não segue uma linha fixa e, por vezes, nem sequer segue a ideia inicial. O importante a realçar é que, de facto, a existência de um plano bem definido e o seu cumprimento facilita a escrita da história. A escrita mais livre, sem seguir uma planificação, não é aconselhável para autores iniciantes, pois, tendencialmente, sentirão mais dificuldades em completar o projeto. O que é escrito é um rascunho. Esta premissa deve estar sempre presente. Não importam as questões ortográficas e gramaticais, nem o mais importante é a coerência dos textos e a sua ligação. O importante é que as ideias, a história, os acontecimentos da história, as ações das personagens, entre outros, sejam escritas. Aproveitar a fluidez dos pensamentos é fundamental.

Estando o rascunho acabado, está ultrapassada a principal dificuldade. O trabalho que se segue é de melhoramento. Para autores menos experientes, será positiva uma verificação/leitura do rascunho imediatamente após a sua finalização. Esta verificação pretende detetar os problemas mais comuns, como a falta de fluidez, confusões na história, personagens mal caracterizadas, ideias confusas ou imperceptíveis, descrições mal elaboradas e, muito importante, a própria sequência da história. Este trabalho de verificação pode ser considerado já como uma primeira etapa de aperfeiçoamento do livro. Após a verificação do rascunho, é fundamental haver um distanciamento do livro, isto é, esquecer o mesmo durante cerca de um mês. Este é um tempo para descansar do trabalho de escrita. O foco deve estar no esquecimento da história a contar e do rascunho criado. Nesta etapa é necessário não cair na desmotivação relativamente ao projeto, impondo um limite ao próprio distanciamento.

Após o período de descanso, é o momento para rever o livro. A simples leitura irá provocar alterações, não só pela verificação de que existem partes que necessitam de ser melhoradas pelos diferentes motivos já referidos, mas também devido a novas ideias que vão surgindo. É o momento de aprimorar a obra. Existe uma grande probabilidade de que sejam feitas mudanças significativas na estrutura, na história e nas personagens. Pode encontrar lapsos, como, por exemplo, a falta de personagens ou a devida e antecipada apresentação de um deles antes do respetivo protagonismo, bem como a inexistência de enredo que justifique uma ação futura. Importa ainda uma análise concreta da estrutura da história, do desenvolvimento das personagens, da ligação entre os acontecimentos que fazem a história e o enredo em geral. Este processo deve ser repetido após a implementação das alterações. É, agora, o momento de pedir a opinião a amigos e familiares. As considerações transmitidas por eles devem ser verificadas e validadas, podendo originar eventuais alterações. A opinião de quem lê o livro partindo do total desconhecimento da história é uma amostra do que futuros leitores irão sentir, pelo que importa levá-la a sério.

Depois de vários rascunhos e revisões, o livro está quase pronto para ser editado. De facto, é aconselhável que o manuscrito seja analisado por profissionais, nomeadamente revisores. Por mais que o autor leia e verifique, o seu olhar nunca será isento, pois conhece o texto e não o lê com a devida atenção. Uma revisão externa e profissional permite detetar eventuais incorreções e até pormenores a melhorar. Uma avaliação do livro por um profissional experiente garante a verificação de muitos dos vários aspetos já referidos (estrutura, conteúdo, fluidez do texto, etc.) e, muito importante, uma opinião válida e credível sobre o potencial do livro do ponto de vista do seu sucesso no mercado.